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O então presidente João Figueiredo visita Minas Gerais acompanhado pelo governador oposicionista Tancredo Neves (Arquivo Veja) |
Quando se
fala em conciliação na política, logo se lembra do Gabinete da Conciliação do Marquês do
Paraná durante o Segundo Reinado. Esse ministério que perdurou de 1853 a 1856,
pode ser encaixado no sentido stricto sensu de conciliação, uma vez que só
manteve uma paz interpartidária, continuando a haver um grande conflito social
e econômico no país.
Se precisarmos
de um exemplo de pessoa que fez uma conciliação no sentido amplo, logo virá a
figura do político mineiro Tancredo Neves, que foi vereador, deputado, senador,
governador, primeiro-ministro e por último presidente da República eleito.
Nas
palavras do presidente João Figueiredo (1979-85), “Tancredo não era de nada.
Nunca realizou coisa nenhuma. Só fez politicagem em Minas”. Por mais que
tal afirmação possa parecer grosseira, o presidente Figueiredo não estava
errado. De fato, Tancredo Neves não deixou nenhum legado físico, uma vez que
era político simpático a acordos e sempre chamado nas horas de crise a fim de
manter a paz e a tranquilidade onde houvesse conflito.
Em dois
momentos importantes de nossa história, um na década de 1960 e outro nos anos
80, o político mineiro foi convocado para agir em nome da pacificação nacional
.
No
primeiro momento, o Brasil sofria uma grave crise institucional provocada pela
renúncia do então presidente Jânio Quadros. O vice-presidente, João Goulart,
constitucionalmente o próximo na linha sucessória, estava em visita à China e
não era simpatizado pelas Forças Armadas, as quais o acusavam de
comunismo.
Tancredo
então sugeriu a mudança do sistema de governo para o Parlamentarismo – a qual
foi aprovada – e se tornou chefe de governo do Brasil logo em seguida, com o
título de primeiro-ministro. Com tal função logrou êxito parcial na sua meta
para pacificar os ânimos políticos nacionais, contudo, foi obrigado a
renunciar, junto com seu gabinete, para poder se candidatar à eleição
legislativa de 1962, a qual acabou sendo reeleito deputado federal.
Vindo o
Regime Militar de 1964, Tancredo que era oriundo das fileiras do centrista PSD,
e fiel defensor das ações de Getúlio Vargas, logo pulou para a oposição
consentida do MDB. Nesse período evitou criar atritos com o governo militar e
fez parte da ala moderada do MDB não se negando, inclusive, ao diálogo com as
forças situacionistas pró-militares.
Em 1984,
já como governador de Minas Gerais, participou ativamente das negociações pela
redemocratização do Brasil. Inicialmente apoiou as Diretas Já, contudo, após o
movimento não conseguir êxito, se tornou membro ativo das articulações
políticas pela vitória oposicionista no Colégio Eleitoral.
Pela sua
postura conciliatória, o PMDB o fez candidato a eleição presidencial de 1985,
contra o candidato Paulo Maluf, que era apoiado pelo setor militar. Tancredo
logo conseguiu formar uma aliança formada por diversos grupos políticos, desde
os esquerdistas do PDT até os dissidentes do PDS, partido governista apoiador
dos militares.
Essa
união com o PDS foi decisiva para por fim aos 20 anos de ciclo militar, uma vez
que como o PMDB estava em minoria no Colégio Eleitoral, precisava de votos do
partido governista para conseguir eleger o presidente da República. Os
rebelados do PDS criaram uma ala dentro do partido chamada Frente Liberal, que
viria a ser o embrião do PFL (hoje DEM), e junto com o PMDB, formou a Aliança
Democrática, a qual levou Tancredo Neves a Presidência da República com 72% dos
votos válidos.
Após sua
eleição, não houve qualquer movimento militar para evitar a investidura de
Tancredo, uma vez que ele possuía prestígio e confiança dos chefes militares. O
seu equilíbrio e moderação foram mais uma vez provados quando da união de
moderados da direita e da esquerda no seu ministério, e quando do
comprometimento em impedir o revanchismo que tanto temiam as Forças Armadas.
Como
todos já sabem, Tancredo não assumiu o governo da República porque adoeceu na
véspera da posse, cabendo então ao seu vice José Sarney comandar o Brasil até
1990. Todavia, o importante de se analisar é o legado deixado pelo estadista
mineiro. Ele não será lembrado jamais por uma obra ou monumento físico erguido,
mas sim pela grande característica conciliatória que o seguiu por toda a vida.
Sua participação na política nacional não só manteve a paz política, mas também
a social, econômica e principalmente a militar.
Excelente sinopse, bem concatenada cronologicamente, parabéns!!
ResponderExcluirMuito obrigado pelas palavras de incentivo.
ExcluirAbraço,
Rafael
Parabéns Rafael! Já sabia que era brilhante em história e da sua paixão pela política, mas fiquei impressionada com tamanha gama de conhecimentos acumulados por vc. Espero que continue postando, assim vou ter o que fazer durante a greve! hehehe bj! :)
ResponderExcluirObrigado Camila pelas palavras tão bonitas e incentivadoras! Pode deixar que continuarei postando e lhe deixarei sempre alerta quando publicar novos textos.
ExcluirAbraço,
Rafael
Artigo de suma importância para quem quiser ficar a par desse especial momento histórico. Gostei muito de ler e perceber o seu grande conhecimento político. É importante que jovens como você participem mais da política do país nem que seja apenas para recuperar fatos passados. Parabéns, Rafael! Continue escrevendo, não esmoreça.
ResponderExcluirProfessora, me guiando pelo velho chavão - "Um povo que não conhece a sua História está condenado a repeti-la" - procuro esclarecer os acertos e erros do passados a fim de melhor trilhar o futuro.
ExcluirRafael