segunda-feira, 11 de junho de 2012

Democratas, Republicanos e seus símbolos


Em novembro haverá eleição presidencial nos Estados Unidos, levando ao combate os dois maiores partidos do país, o Democrata e o Republicano, simbolizados respectivamente por um burro e um elefante. Esses símbolos se popularizaram através de charges políticas, principalmente de grandes cartunistas do século XIX, como Thomas Nast, pai da charge política americana.

Para melhor explicar o uso desses animais como símbolos dos partidos americanos, explanarei duas charges de Nast, uma chamada Um burro vivo chutando um leão morto (1870), sobre a origem do burrico democrata, e outra O pânico do terceiro mandato (1874), para explicar o uso do elefante como símbolo dos republicanos:


Um burro vivo chutando um leão morto


Texto: “Um burro vivo chutando um leão morto. E que Leão! E que Burro!” 

Explicação: Nesta charge de Thomas Nast, publicada no Harper’s Weekly em 15 de janeiro de 1870, há em segundo plano uma águia negra, representando a dominação federal pós-guerra nos estados sulistas, e o Capitólio, sede do Poder Legislativo dos Estados Unidos, contudo, em destaque há um burro coiceando um leão morto.

O burro está representando a Copperhead Press, imprensa dos democratas nortistas contrários à Guerra Civil. Por exigirem uma rápida trégua com os confederados, os republicanos apelidaram seus rivais de copperhead (cabeça de cobre), cobra venenosa muito perigosa que ataca sem aviso prévio. O leão morto, do outro lado, ilustra Edwin M. Stanton, secretário da Guerra de Abraham Lincoln, que durante a Guerra Civil atacou ferozmente a ala democrata “pacifista” contrária ao conflito “Norte x Sul”.

Após a morte de Stanton, dias antes da publicação desta charge, a imprensa ligada aos copperhead publicou diversos artigos atacando a memória do ex-secretário de Lincoln. Como resposta, Nast fez esta charge defendendo os feitos de Edwin Stanton e sugerindo uma ideia totalmente contrária do velho provérbio de Elizabeth Cleghorn Gaskell; “um burro vivo é melhor do que um leão morto”.

Anos antes da publicação deste desenho, o animal já havia sido usado com o mesmo objetivo. Na eleição de 1828 os oposicionistas frequentemente associavam o então candidato democrata, Andrew Jackson, com um burro, tentando associar sua imagem com a tolice, a burrice e o atraso. Após ganhar a eleição, Jackson decidiu então adotar o burro como seu símbolo, dizendo que o animal era forte, honesto, trabalhador e humilde, assim como ele.

O pânico do terceiro mandato


Texto: “Um Asno, ao colocar sobre seu dorso uma pele de Leão, vagava pela floresta divertindo-se com o pavor que causava aos animais que ia encontrando pelo seu caminho.” - Shakespeare ou Bacon

Explicação:  Esta charge foi uma resposta a uma série de editoriais do New York Herald criticando o desejo do então presidente Ulysses S. Grant de concorrer a um terceiro mandato, pois se considerava um ato de “Cesarismo” – tentativa ditatorial a fim de se conseguir poderes ilimitados.

A cena e o texto da charge são inspirados na fábula de Esopo O Asno em Pele de Leão, e a citação “Shakespeare ou Bacon” é uma sátira a um artigo do New York Herald que afirmara que todos os textos de Shakespeare foram escritos por Francis Bacon.

Na charge, o New York Herald é representado por um burro sob a pele de leão, cuja ferocidade parece assustar os animais da imprensa , como o unicórnio (The New York Times), girafa (New York Tribune) e a coruja (New York World). Uma raposa nervosa, representando o Partido Democrata, está à beira da tábua reforma perto do buraco do caos das reivindicações sulistas, aonde o elefante, representado o voto dos republicanos, aparenta estar indo.

Como as pesquisas davam como certa a vitória dos democratas, o que de fato acabou acontecendo, Nast desenhou, as pernas dianteiras do elefante mais dentro do buraco do que as traseiras, os gansos Ohio e Indiana eufóricos com a vitória democrata nestes estados importantes, e o avestruz com a cabeça fincada na terra ilustrando os republicanos “sóbrios” que forma mais seletivos em relação aos próprios candidatos em Nova York. 

Essa charge de 1874 é uma das mais importantes de Thomas Nast porque marca a primeira aparição impactante do elefante republicano. O cartunista buscou usar periodicamente elefante como símbolo do Partido Republicano porque, segundo os democratas, o animal representava a pomposidade, arrogância e bobeira dos adversário.  

Contudo, o animal já havia sido usado duas vezes antes como símbolo do partido, uma durante folhetos da campanha de Abraham Lincoln em 1864, IMAGEM FATHER ABRAHAM, e outra numa charge do Harper’s Weekly para representar os republicanos liberais de 1872, contudo, nenhuma das duas caricaturas teve um repercussão tão grande na mídia e no meio político como a de Nast.

Anos após as primeiras charges de Nast e incentivados por ele, finalmente os republicanos decidiram adotar o elefante como símbolo do partido, alegando então que o animal é forte e digno, contrariando a ideia dos democratas sobre o bicho.  





2 comentários:

  1. Excelente! Nessa época fazer charges era realmente uma arte. Tantos detalhes, tantos significados, tantas motivações políticas...

    ResponderExcluir